INTRODUÇÃO
A busca por uma vida de acordo com o padrão
bíblico de santidade, ao que parece, é uma luta atemporal. Uma luta eterna que
só se findará no dia da gloriosa vinda do Senhor. Os tempos podem ter
mudado; a igreja e as pessoas também, contudo a exigência divina acerca da
conduta da vida dos cristãos ainda é a mesma que foi feita aos israelitas na
ocasião da peregrinação rumo à terra prometida: “Consagrem-se e sejam santos, porque eu sou santo” (Lv 20.7).
Jesus, no sermão do
monte, elevou essa exigência ao declarar: “Sejam
perfeitos como perfeito é o Pai celeste de vocês” (Mt 5.48). Para mostrar a
relevância desse padrão bíblico de santidade John Stott escreveu: “O chamado que Cristo nos faz é novo, não
apenas porque é uma ordem para sermos ‘perfeitos’, mais do que ‘santos’, mas
também por causa da descrição que faz do Deus que devemos imitar”.[1]
Ao que parece maior
dificuldade que impede o homem de alcançar tal meta, a saber, uma vida de
santidade, não é o mundo que jaz em pecado, mas o pecado residente no próprio
homem, e dessa forma ele encontra toda sorte de obstáculos em sua busca por uma
vida santa, Rm 7.17-20.
1. SANTIDADE
– CONCEITOS EQUIVOCADOS
a) Moralismo
Notadamente, alguns cristãos se destacam por
sua postura moral, seu comportamento ético, honestidade, firmeza de caráter e
palavras. Espera-se exatamente isso de cada cristão. No entanto uma pessoa não
precisa ser necessariamente cristã para ter essas qualidades, Mt.19.16-22.
b) Ativismo
religioso
Geralmente se confunde santidade com ativismo
religioso. Tendemos a qualificar as pessoas como santificadas na medida em que
elas assumem cargos ou se envolvem nas mais diversas atividades do templo. Servir
a Deus é resultado de um coração voluntário e uma vida consagrada. Ativismo
religioso não pode ser sinônimo de vitalidade espiritual e em muitos casos é
sintoma de que alguma coisa não está bem, Lc 10.38-42.
c) Experiências Espirituais
Outra prática que se percebe em nossos dias é
igualar a santificação com experiências espirituais. O relacionamento com Deus
é marcado por experiências individuais. Entretanto ninguém pode ser rotulado
como mais ou menos santo pela qualidade e tipos de experiências. Um exemplo disto
é à igreja de Corinto.
2. OS
ASPECTOS BÍBLICOS DA SANTIDADE
a) No
Antigo Testamento - A
Palavra hebraica usada para se referir ao que é santo é “qadosh”,
cujo significado básico é “separar dentre outras coisas”. Na Bíblia encontramos o povo
de Deus consagrando de tudo: pessoas (Ex 22. 31); vestes sacerdotais (Ex 29.
29); campos (Lv 27. 21); ofertas (Dt 12. 26); dinheiro e utensílios (Js 6. 19);
animais (2 Cr 29. 33); o dia (Ne 8. 9); lugares (Jr 31. 40). Isso mostra que
devemos consagrar todas as coisas a Deus em um ato de fé e de busca da vontade
Dele. A
palavra também se refere a uma separação de cunho moral e ético que distinguiria
o povo de Israel dos demais, Lv 11.44-45.
b) No
Novo Testamento - No
Novo Testamento a palavra é “hagios”. Essa palavra é usada
para descrever a santificação dos crentes em dois sentidos: O
primeiro é a separação da prática do pecado deste mundo; O
segundo é a consagração ao serviço de Deus.
Hoekema
conceituou: “Santificação é a operação
graciosa do Espírito Santo, que envolve a nossa participação responsável, por
meio da qual, como pecadores justificados, ele nos liberta da corrupção do
pecado, renova toda a nossa natureza segundo a imagem de Deus e nos habilita a
viver uma vida que é agradável a ele”.[2]
3. O
AUTOR E OS MEIOS DE SANTIFICAÇÃO[3]
A santificação é efetuada pela operação
imediata do Espírito Santo na vida dos crentes. É feita por diversos meios, que
o Espírito Santo emprega.
a) A
Palavra de Deus
- A Escritura apresenta todas as condições objetivas para exercícios e atos
santos. Ela é útil para estimular a atividade espiritual apresentando motivos e
incentivos, e nos dá direção para essa atividade por meio de proibições,
exortações e exemplos, Jo 17.17; 1 Pe 1.22; 2.2.
b) Os
Sacramentos
- Simbolizam e selam para nós as mesmas verdades que são expressas verbalmente
na Palavra de Deus, e podem ser considerados como uma palavra em ação, contendo
uma viva representação da verdade, que o Espírito Santo torna ocasião para
santos exercícios.
- Batismo, Rm 6.1-9; 1 Co 12.13; 1 Pe 3.21.
- Santa Ceia, Mt 26.26-28; I Co 11.23-26.
c)
Direção Providencial
- As providências de Deus, quer favoráveis quer adversas, muitas vezes são
poderosos meios de santificação. Em conexão com a operação do Espírito Santo
mediante a Palavra, elas agem em nossos afetos naturais. Devemos ter em mente
que a luz da revelação de Deus é necessária para a interpretação das Suas
orientações providenciais, Jr 10.23; Pv 20.24; Sl 25.12-14.
4. OS
TRÊS TEMPOS DA SANTIFICAÇÃO
Stott pregou: “Há três perspectivas: passado, presente e futuro. Todas apontam na
mesma direção: há o propósito eterno de Deus, pelo qual fomos predestinados; há
o propósito histórico de Deus, pelo qual estamos sendo transformados pelo
Espírito Santo; e há o propósito final ou escatológico de Deus, pelo qual
seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. Estes três propósitos — o
eterno, o histórico e o escatológico — se unem e apontam para um mesmo
objetivo: a conformação do homem à imagem de Cristo”.[4]
a) Santificação Passada (propósito
eterno) significa
que o crente já foi posicionalmente separado em Cristo, Rm 8.29-30. Esta
santificação é uma realidade eterna e está baseada numa nova posição espiritual
que o Cristão tem em Jesus Cristo. Os crentes de Corinto não estavam sem pecado,
e apesar disso foram chamados de santos e foi escrito que foram santificados (1
Co. 1.2, 30).
b) Santificação Presente
(propósito histórico) indica o
processo pelo qual o Espírito Santo gradualmente muda a vida do crente para dar
vitória sobre o pecado. Esta é a santificação prática. Este processo atual de santificação
nunca acaba nesta vida (1 Jo 1.8-10). O Cristão precisa resistir ao pecado até
ser levado deste mundo através da morte ou na volta de Cristo.
c) Santificação Futura (propósito escatológico) é a perfeição que o crente vai desfrutar na
ressurreição (1 Ts 5:23). Na vinda de Cristo, cada crente receberá um corpo
novo que estará sem pecado. O Cristão não terá mais de resistir ao pecado ou de
crescer para a perfeição. Sua santificação estará completa. Ele estará inteira
e eternamente separado do pecado e para Deus.
Para Concluir:
O desafio da vida cristã leva-nos a desejar
sermos santos na presença de Deus. Nesta busca, precisamos disciplinar-nos numa
constante comunhão com Deus através de uma prática devocional. Deus nos chamou
para a santificação (I Ts 4.7) deu-nos a ordem de santificar-nos (I Pe 1.15).
a) A leitura da Bíblia e a
meditação em seu ensino, Sl 119.9-16.
b) A oração é indispensável ao
crescimento espiritual e à santificação, Sl 139.23-24.
c) A adoração a Deus, no culto
público, é indispensável, Hb 10.19-25
d) A autodisciplina ou o domínio
de si mesmo é algo indispensável na busca da santidade, I Co 11.31-32.
e) O companheirismo cristão é outro
elemento muito forte, Hb 12.14-15.
[1]STOTT, John. A
Mensagem do Sermão do Monte. São Paulo: ABU-Editora. 2008, p. 123.
[2] HOKEMA, A. Salvos pela graça: a
doutrina bíblica da santificação. São Paulo: Cultura Cristã. 2002, p. 189
[3] BERKHOF, Loius.
Teologia Sistemática. Campinas, SP: Editora Luz Para o caminho. 1990, p. 539
[4] STOTT, John. O
Paradigma: Tornando-nos mais Semelhantes a Cristo. Sermão pregado na Convenção
de Keswick em 17/07/2007. Tradução: F. R. Castelo Branco. Outubro 2007.