Comunidade

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sábado, 2 de novembro de 2013

ENCERRAMENTO DA SEMANA DE VIGÍLIA EM ORAÇÃO - 25/10/2013





























O BATÍSMO É EM NOME DE JESUS OU EM NOME DO PAI, E DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO? - PARTE II


PARTE II

As Evidências Históricas do Batismo Trinitário - Muitos dizem que, antes de Constantino, ninguém era batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mas somente em nome de Jesus. Só diz isso quem desconhece a História. Possuímos vários escritos que registram o batismo trinitariano quando Constantino nem sonhava em nascer. Irineu, cristão cerca do ano 190 escreveu: “Temos recebido o batismo... em nome de Deus, o Pai, em nome de Jesus Cristo, o Filho de Deus que se encarnou e que morreu e ressuscitou de novo, e em nome do Espírito Santo de Deus”. Justino Mártir, escrevendo cerca do ano 165 disse: “...recebem de nós o batismo em água, em nome do Pai, Senhor de todo universo, e do nosso Salvador Jesus Cristo e do Espírito Santo”. (dados colhidos na revista Defesa da Fé, ICP, ed. 50, pág. 53). Sobre Irineu ter informado que o batismo é trinitário, vale lembrar o que o próprio Branham disse sobre ele: “...podemos saber com certeza que ele tinha um ensinamento tão perfeito quanto possível sobre este assunto.”(1) No livro “As Sete Eras da Igreja”, pág. 16, Branham cita um único relato histórico onde alguém é batizado “em nome do Senhor Jesus”, por volta do ano 100 d.C. Mas no Didaquê, documento da mesma época, possivelmente do ano 110 diz: “O bispo ou presbítero deve batizar... em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” Existem divergências quanto a data do Didaquê, mas todos os estudiosos estão de acordo de que ele é pré-niceno. 

A Idade do Didaquê – Algumas pessoas tentam desqualificar o testemunho do Didaquê, alegando que não se tem certeza de que ele é do primeiro século como se alega, não servindo assim de base para defender a antiguidade do batismo trinitariano. Porém, duas coisas devem ser observadas. Primeiro: os que dizem que o Didaquê não é do primeiro século atribuem a ele uma dada anterior ao Concílio de Nicéia, portanto, ainda assim ele serviria para provar que o batismo trinitariano não é invenção e imposição da igreja romana, como costuma-se dizer. Segundo: algumas características do conteúdo do Didaquê dão base para o considerarmos como sendo do final do primeiro século. 

Eis algumas: 1 – Nenhuma referência é feita aos livros do Novo Testamento.
2 – Ênfase aos ofícios de apóstolos e profetas.
3 – O batismo em água corrente.
4 – Ausência de preocupação com um credo universal.
5 – Simplicidade do rito eucarístico.
6 - Nenhuma referência ao episcopado monárquico.
7 – Preocupação em distinguir as práticas cristãs dos ritos judaicos.

É importante notar que o Evangelho de Mateus, que compõe a fórmula trinitária, foi escrito na Síria e o Didaquê foi escrito na forma de carta circular às igrejas na Síria! Isso nos faz concluir que, ou o Didaquê copiou a fórmula diretamente de Mateus, ou que ambos registraram a fórmula diretamente da prática batismal da comunidade, o que aponta para o batismo trinitariano no primeiro século. Também chamo a atenção para o fato de que no Didaquê se encontra tanto a fórmula adotada pelos trinitarianos quanto a fórmula adotada pelos unicistas. Primeiro é dito: “Quanto ao batismo, faça assim: depois de ditas todas essas coisas, batize em água corrente, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” Em seguida, ao dar as instruções para a Santa Ceia, se diz: “Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor...” (Didaquê 7.1; 9.5). Isso dá base para se dizer que a igreja não se preocupava com definição de uma fórmula para o batismo, pois fazia uso das duas.

O Comentário da Bíblia de Jerusalém – Numa tentativa desesperada de provar que o batismo trinitário é invenção da igreja romana, muitos unicistas citam a nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém sobre o texto de Mt 28.19. Vejamos o que diz a nota: “É possível que em sua forma precisa, essa fórmula reflita influência do uso litúrgico posteriormente fixado na comunidade primitiva. Sabe-se que o livro dos Atos fala em batizar ‘no nome de Jesus’ (cf. At 1,5+, 2,38+). Mais tarde deve ter-se estabelecido a associação do batizado às três pessoas da Trindade.” O problema está na má interpretação desse comentário. A palavra “posteriormente” não refere-se a algum tempo depois da morte dos apóstolos, mas aos dias em que Mateus escreveu seu Evangelho. A comunidade primitiva que a nota se refere é a igreja local de Mateus. O que tal comentário quer dizer é que no livro de Atos, escrito antes da destruição do templo, em 70 a.C., se fala apenas do batismo em nome de Jesus. Mais tarde, na igreja de Mateus, no fim do primeiro século, aparece a fórmula trinitária e ele decidiu registrá-la em seu Evangelho. Isso porque os estudiosos da Bíblia de Jerusalém são de opinião de que o evangelho original de Mateus ensina a fórmula trinitária, mas que tais palavras não são uma declaração autêntica de Jesus. Seria apenas uma tentativa do evangelista de justificar a prática do batismo em sua igreja local. Eles interpretam a Bíblia por meio do método histórico-crítico. Como não aceitamos esse método, cremos que Mateus escreveu tais palavras porque lembrava-se que Jesus as havia pronunciado. 

De uma forma ou de outra, o fato é que a Bíblia de Jerusalém não afirma que as palavras “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” não estão no texto original de Mateus. Isso fica por conta dos que não compreendem o que a nota de rodapé realmente quer dizer. Convém informar também que os unicistas citam a Bíblia de Jerusalém sobre Mt 28.19 mas fazem vista grossa para o que ela diz sobre At 2.28. Vejamos: “O batismo é dado ‘em nome de Jesus Cristo’ (cf. [At] 1,5+) e é recebido ‘invocando-se o nome do Senhor Jesus’ (cf. [At] 2,21+; 3,16+; 8,16; 10:48; 19,5; 22,16; 1Cor 1,13.15; 6,11; 10,2; Gl 3,27; Rm 6,3, cf. Tg 2,7). Essa maneira de falar talvez não vise tanto à fórmula ritual do batismo (cf. Mt 28,19), quanto ao significado do próprio rito: profissão de fé em Cristo, tomada de posse, por Cristo, daqueles que doravante Lhe são consagrados.” Ou seja, a Bíblia de Jerusalém afirma que o batismo em nome de Jesus pode ter sido apenas uma profissão de fé e não uma fórmula. Sempre que um unicista citar a nota de rodapé referente a Mt 28.19 nós podemos contra-atacar com a nota sobre At 2.28.

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Ninho Jesen é Professor de História e
Membro da Igreja Evangélica Congregacional Família Viva.