Comunidade

Comunidade

terça-feira, 23 de junho de 2015

CULTO DE LOUVOR E ADORAÇÃO - 07/06/2015














ESTUDO N° 07 - ESCÂNDALOS E PEDRAS DE TROPEÇOS (1 Coríntios 8.1-13)


INTRODUÇÃO

Vez por outra, os meios de comunicação noticiam grandes escândalos que envolvem líderes religiosos e Igrejas Evangélicas. São verdadeiras bombas que provocam uma série de danos no meio evangélico e secular. No entanto, no dia a dia da Igreja, muitos escândalos acontecem por causa do mau testemunho de muitos irmãos. Outras vezes, certas atitudes que não são resultado de mau testemunho ou pecado, acabam se constituindo em escândalos para os fracos na fé.

Há, nas igrejas, os “escandalizáveis" que se tornam um sério problema para um bom relacionamento entre os irmãos, Há, também, os escandalizadores, que não estão nem um pouco preocupados com o bem estar do seu próximo.

Mas, o que é escândalo? Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, a palavra significa tropeço, armadilha, cilada, barreira, impedimento. Assim, escândalo é tudo aquilo que faz tropeçar ou que seduz para o pecado. Aquilo que serve para impedir alguém de continuar o seu caminho. É o que desvia de Cristo. A simples admiração, surpresa, decepção ou mal-estar provocado pelas atitudes dos crentes, não devem ser considerados escândalo, pois, escandalizar é se tornar obstáculo no caminho de alguém.

Porém, o presente estudo trata também do escândalo do modo como ele é entendido no meio evangélico, ou seja, o mal estar que alguns sentem diante do comportamento de muitos irmãos.

CONTEXTUALIZAÇÃO

Em Corinto havia muitos templos dedicados aos deuses greco-romanos. As festas dedicadas a esses demônios eram repletas de música, orgia, comida, bebida e excessos de todos os tipos. Nas oferendas de animais, uma parte era queimada no altar do ídolo, a outra era doada ao sacerdote, e a última era entregue ao ofertante, que quase sempre a vendia no mercado.

Para um novo convertido na cidade de Corinto, a esse respeito havia muitas implicações. A situação era complicada por dois fatos. Primeiro, era uma prática social aceita, tomar refeições num templo, ou em algum lugar associado a um ídolo. “Era parte integrante da etiqueta formal na sociedade”. Em segundo lugar, a maior parte do alimento vendido nos armazéns, era muito difícil saber com certeza se a comida de determinado armazém fizera parte de um sacrifício ou não.[1]

O Comentário Moody destaca os motivos acimas citados e as três dúvidas que existiam entre eles:
1) Podia um cristão participar da carne que fora oferecido a um falso deus em uma festa pagã? (templo pagão, I co 8.10)
2) Podia um cristão comprar e comer carne oferecida aos ídolos? (Mercado, I Co 10.25)
3) Podia um cristão, quando convidado á casa de um amigo, comer carne, que fora oferecida aos ídolos? (Casa dos amigos idólatras, I Co 10.27-28).[2]

Diante destas questão, nada fácil para os crentes daquela igreja, Paulo identifica o “velho” dos grupos no seio da comunidade cristã:[3]
a) Os abstinentes e legalistas (Fracos). Algumas pessoas, que Paulo identifica como os de consciência mais fraca, diziam: “Nós não podemos comer carne em hipótese nenhuma, pois corremos o grave risco de comer carne sacrificada a ídolos”. Para nao correr riscos, eles decidiram cortar a carne do cardápio. Tornaram-se vegetarianos.
b) Os permissivos e libertinos (Fortes). Paulo os chama de fortes. Eles diziam: “Não! O ídolo é nada! Não passa de um pedaço de barro ou madeira e ele não tem valor algum, vamos comer carne a valer! Não importa o lugar ou a circunstância, vamos comer carne sem qualquer drama de consciência”.

Qual é o princípio que deve reger a questão da liberdade cristã? O princípio geral de Paulo era: “[...] quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu” (Rm 14.3). A orientação de Paulo é que não devemos ser fiscais da vida alheia. E preciso que o crente tenha sabedoria para adotar uma postura coerente dentro da liberdade cristã.

Hoje, os problemas podem ser outros. O “comer carne” pode corresponder àquelas atitudes que estão servindo de embaraço para muitos cristãos que são fracos na fé.

APLICAÇÕES

1. O ESCÂNDALO COMO DESAFIO AO FORTALECIMENTO DA FE

Paulo caracteriza aqueles irmãos que se escandalizam, como sendo “fracos na fé”. Nos versículos 7 e 12 ele afirma que estes têm uma “consciência fraca". No versículo 9 declara que não devemos ser tropeço para os fracos. No versículo 10 ele adverte que o fraco é facilmente induzido ao pecado. No versículo 11 ele declara que o irmão fraco pode perecer por causa do escândalo. Assim, percebe-se que os irmãos fracos são aqueles que facilmente se escandalizam.

Biblicamente, os fracos não escandalizam os que são fortes na fé. É sempre o contrário, embora tal afirmação pareça óbvia, na prática não é o que acontece, pois muitos daqueles que se escandalizam se consideram tão fortes e tão espirituais que não podem admitir o comportamento diferenciado do irmão. Estes afirmam impiedosamente que, aquele cuja atitude se constituiu em motivo de escândalo, é que e fraco na fé.

Os fracos constantemente se escandalizam, tornando-se revoltados e ameaçam abandonar a igreja e voltar a velha vida. Quase sempre aqueles que têm uma consciência mais fraca criticam, difamam e formam uma rede de intrigas a respeito daquele que o “escandalizou". Pode acontecer de o irmão que foi o motivo de escândalo estar completamente inocente naquilo que fez e nem saber que involuntariamente feriu a frágil consciência de seu irmão.

O grande desafio que a questão do escândalo apresenta é o fortalecimento da fé. É preciso crescer, amadurecer, aprofundar as raízes, tornar-se como “o monte de Sião que não se abala, firme para sempre” (Sl 125.1). O apóstolo Pedro ensina que é preciso “crescer na graça e no conhecimento de Cristo" (II Pe 3.1 8).

A busca de um maior e mais profundo conhecimento da Palavra de Deus é o caminho que deve ser seguido por aqueles que desejam fortalecer-se na fé: “Grande paz têm os que amam a tua lei; para eles não há tropeço", diz o salmista (Sl 119.165). A igreja seria muito diferente se todos os crentes possuíssem conhecimento suficiente para reconhecer aquilo que é moralmente indiferente, abandonando os escrúpulos insensatos e sem base.

2. O ESCÂNDALO E AS ATITUDES DOS ESCANDALIZADOS

Escandalizar proposital e inconseqüentemente um irmão é uma atitude reprovável. Aquele que e culpado de escândalo torna-se, muitas vezes, pedra de tropeço para aqueles que estão se iniciando na fé. É preciso estar atento ao que Jesus disse: “Qualquer que fizer tropeçara um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fôra que pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar" (Mt l8.6).

Afirma Adam Clarke: “Prejudicar um homem quanto as suas circunstâncias é algo serio; prejudicá-lo em sua reputação, mais ainda; mas prejudicá-lo na alma é o pior de tudo. Nenhuma iniqüidade, nenhuma malícia pode ser mais grave do que a injúria e a destruição da alma: a conduta descaridosa só pode chegar a esse ponto. Portanto, quem age assim, torna-se um perigoso criminoso aos olhos de Deus”. [4]

Se, por um lado, ha aqueles que são novos na fé e precisam de cuidados especiais para crescer ou para continuar o seu caminho, há também, aqueles que já têm muitos anos de vida cristã e se escandalizam como os neófitos. Mas, não apenas isto; as suas atitudes para com os que se tornaram motivo de escândalo é impiedosa e maliciosa. São atitudes que se tornam pecaminosas. Os fariseus se escandalizaram muitas vezes com Jesus, apesar de Jesus não ter pecado nem ter tido alguma atitude reprovável (Mt 15.12).

Ainda hoje, percebe-se que muitos daqueles que ficam escandalizados, agem de forma semelhante. Não são capazes de perdoar, espalham boatos e comentários maldosos, criticam duramente, afastam-se da Igreja, renunciam cargos, ficam revoltados, fazem julgamentos precipitados etc. Essas atitudes também levam outros a se escandalizar e um circulo vicioso vai se formando.

A mulher que foi apanhada em adultério provocou um grande escândalo (Jo 8.1-11), mas atitude daqueles que queriam apedrejá-la foi pior ainda.

Comentando esta passagem, o Rev. Augusto Gotardelo diz: “Naquele tribunal improvisado, Jesus era a única pessoa habilitada para apedrejar a pobre mulher porque Ele não tinha pecado. Contudo, cobriu-a com as flores da simpatia e do amor e entregou-lhe a mensagem que, atravessando os séculos, tem causado mal-estar aos fariseus de todos os matizes: “Eu também não te condena. “Vai e não peques mais”. [5]

3. O ESCÂNDALO E A PREOCUPAÇÃO COM O BEM-ESTAR DO IRMÃO.

Não são raras vezes em que, involuntariamente, alguém escandaliza o seu irmão em questões secundárias ou indiferentes. Outras vezes, com o seu pecado voluntário e consciente muitos se tornam pedra de tropeço ou embaraço para eles.

Pelo texto de I Coríntios 8.1-13, observa-se que os fortes na fé estavam prejudicando os fracos com a sua liberdade cristã, Para os fortes, comer a carne, sem se preocupar se era sacrificada ou não aos ídolos, era algo que não lhes afetava espiritualmente. Paulo não os condena por comerem aquela carne. O que ele não aprova é a maneira negligente e descuidada com que a questão era tratada. A ambos os grupos, fortes e fracos, estava faltando o amor cristão.

Aos fortes, Paulo faz a recomendação: “Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha de algum modo a ser tropeço para os fracos” (v.9). É preciso que os mais fortes preocupem com o bem-estar daqueles que não têm maturidade suficiente para lidar com certas questões. Se determinadas atitudes vão servir de cilada ou armadilha para um crente fraco cair em pecado, é preciso evitar, pelo bem do irmão e por amor a ele, até que e perceba que nas coisas que não são pecados, cada um deve ter “opinião bem definida e sua própria mente " (Rm 14.5). É preciso deixar que esse amor se torne o elemento motivador de todas as nossas atitudes. “E por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo”, diz o apóstolo (v.l3).

Leon Morris afirma: “Os feitos dos fortes não devem ser tais que causem estorvo. progresso dos fracos. O que está certo para um homem pode estar errado para o outro. Ninguém deve querer impor os seus padrões do certo e do errado a outros, cuja consciência reage diferentemente”. [6]

É preciso agir para com o fraco sempre com a consideração e amor cristãos. “Fiz-me fraco para com os fracos”, argumenta Paulo (I Co 9.22). Espera-se também que os fracos se fortaleçam e evitem tolher a liberdade dos outro deixando de ser “pedra no sapato” para aqueles que não se condenam no que fazem.


[1] BITTENCOURT, Benedito de Paula. Problemas de uma Igreja Local. 2 ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1986.
[2] PFEIFFER, CharlesHARRISON, Everett. Comentário Bíblico Moody (V.5). 3. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1988.
[3] LOPES, Hernandes Dias Lopes, I Coríntios: Como resolver conflitos na Igreja. São Paulo: Hagnos, 2008.
[4] CLARKE, Adam. Adam Clarke's Commentary on the Whole Bible, GraceWorks Multimedia, 2008.
[5] GOTARDELO, Augusto, Português para Pegadores Evangélicos, São Paulo: Vida Nova, 1979.
[6] MORRIS, Leon. I Coríntios  - Introdução e Comentário. Série Cultura Bíblica, volume 7.  São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1989.