Comunidade

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sábado, 2 de maio de 2015

CULTO DE LOUVOR E ADORAÇÃO - 26/04/2015
















ESTUDO Nº 01 - DIVISÕES NA IGREJA - Prof. Antonio de Pádua


INTRODUÇÃO

Sua Igreja vai bem? Esta pergunta simples e corriqueira é, na verdade, de difícil resposta. Para alguns a igreja nunca vai bem. Para outros ela nunca vai mal. Na verdade, igreja perfeita só mesmo a triunfante pois todas as que ainda militam na vida presente, enfrentam problemas, crises e contratempos que servem para o amadurecimento e despertamento de líderes e do povo de Deus. Assim sendo, uma das questões mais desestabilizadores e visivelmente presente nas igrejas hoje, e que certamente precisa de reflexão e orientação para sua superação é a divisão.

MacArthur escreveu: O problema existe na igreja desde os tempos do Novo Testamento. Os crentes de Corinto deixaram a desejar de muitas maneiras e a primeira coisa pela qual Paulo os chamou à ordem foi a discórdia ou contenda. Contenda é uma realidade na igreja porque o egoísmo e o pecado são realidades nos seres humanos. Por causa de desavenças, o Pai é desonrado, o Filho é envergonhado, seu povo é desmoralizado e desacreditado e o mundo é afastado (despedido) e confirmado na descrença”.[1]

Igrejas divididas, faccionadas, cheias de grupinho, de partidos e sub-partidos, é de fácil percepção nos dias atuais. Os motivos para as dissidências e intrigas são as mais variadas. Pode-se citar alguns exemplos: formas de liturgia (tradicionais e renovados); opção política (situação e oposição); confronto de gerações (idosos e jovens), lideranças eclesiásticas (satisfeitos e insatisfeitos), ênfase ministerial (espiritualizados e socializados). É bom dizer, logo de inicio, que não há nada de errado com opiniões divergentes ou com diversidade na igreja. A diversidade é positiva na vida da igreja, a divisão é negativa.

Jesus afirmou que “reino dividido não subsistirá”, Mt 12.25.


CONTEXTUALIZAÇÃO

Quando lemos a carta de Paulo aos Coríntios, um dos primeiros problemas verificados são as divisões de partidos presente naquela igreja, I Co 1.11-13.

O teólogo B. P. Bittencourt afirma que “Paulo começa sua carta tratando deste problema criado pela longa ausência do pastor. E que se cristalizou em grupos bem definidos”:[2]

a) Grupo de Paulo: Era o grupo dos gentios. Paulo pregava o fim da Lei e liberdade cristã. Provavelmente este grupo degenerou sua pregação para outros fins.
b) Grupo de Apolo: Ele era um judeu cristão de Alexandria (centro intelectual e filosófico). Os de Apolo estavam fazendo do cristianismo simplesmente filosofia de vida intelectualizada para debates retóricos.
c) Grupo de Cefas: Era o nome judaico de Pedro. Eram judeus com um profundo apego legalista que é também visto na carta aos Gálatas.
d) Grupo de Cristo: O grande defeito deste grupo não estava em dizer que pertenciam a Cristo, mas, em agir como se Cristo pertencesse a eles.

Bruce escreve que: “Personalidades, métodos de pregação e, provavelmente, ênfases doutrinárias se tornam pontos de divisão. O apóstolo deixa bem claro que isso não era vontade dele, nem de Cristo. Comparações feitas pela congregação se consolidaram em “panelinhas”. (v. 13-17)”.[3]

Comentando 1 Co 1.10, Hernandes Dias Lopes escreveu: Depois de apontar o problema, Paulo roga aos irmãos que em nome de Jesus falem a mesma coisa. Que não haja entre eles divisões. A palavra “divisão” é a palavra grega cisma, cujo significado é rasgar um tecido. O que Paulo está dizendo é que havia na igreja algo como um tecido rasgado. E isso que eles estavam fazendo: rasgando a igreja! O apóstolo ordena à igreja: “[...] antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer” (1.10b).[4]

Paulo cuida do assunto de forma transparente ( 1.11). Muitas vezes quando queremos tratar dos problemas da igreja, não tratamos de maneira semelhante. Paulo ficou sabendo das contendas na igreja (1.10; 7. 1; 16.10,11, 12, 17). Ele informou a igreja sobre o problema e deu o nome de quem lhe trouxe o problema.

Sobre este posicionamento de Paulo, Hernandes Dias Lopes diz o seguinte: “Paulo é específico quanto à informante e quanto à informação. Essa transparência neutraliza a maledicência dentro da igreja. Quando as coisas são trabalhadas em um ambiente de abertura e de transparência, o mal é tratado e resolvido sem deixar  feridas, mágoas e ranços”. [5]


1. Expressão de nulidade da cruz de Cristo

O Evangelho de Cristo é um Evangelho que promove unidade e não dissensões. Infelizmente, muitas igrejas vivem atualmente o drama que a igreja de Corinto vivenciava naqueles tempos: O drama da divisão. O Apóstolo Paulo ao tomar ciência das dificuldades reinantes naquela comunidade faz a indagação: “Acaso Cristo está dividido?” I Co 1:13.

Paulo diz que as divisões na igreja são absurdas, porque elas estão levando os crentes a pensar que Paulo está pregando um Cristo, Apoio está pregando outro Cristo e Cefas está pregando ainda outro Cristo. Há somente um Salvador. Há somente um Evangelho. A igreja de Corinto começou a se dividir internamente. Por quê? Porque em vez de a igreja influenciar o mundo, o mundo é que estava influenciando a igreja. Onde há presença reinante da divisão, dos partidos, há também forte indícios de que a cruz de Cristo está anulada. Vemos atualmente igrejas se dividindo por causa de pessoas que se acham no direito de ser as protagonistas centrais do Evangelho. Vemos grupos criando inimizades nas igrejas por questões tão pequenas para a essencialidade do Evangelho.

Uma outra realidade bastante interessante, é o que David Prior escreveu: o triste é que os membros insatisfeitos muitas vezes têm o pensamento ingênuo de que outra igreja na região seria uma opção um pouco melhor. Dessa inquietação surge o hábito comum do “troca-troca” de igrejas”.[6]

Onde está a cruz de Cristo? Essa cruz que promove a unidade, que derruba a parede da inimizade, criando o vínculo da paz, onde está? Paulo afirmou o poder da Cruz em nosso meio, Ef 2.14-16; Fp 3.17-18.


2. Evidência de uma igreja carnal

Uma segunda realidade que o texto salienta sobre o problema da divisão na igreja de Cristo, é a evidência de uma igreja carnal. O apóstolo Paulo denuncia esta questão. A igreja de Corinto tinha inúmeros dons em operosidade, tinha fama de espiritual, de carismática, mas estes irmãos são identificados por Paulo como crianças espirituais, e crentes carnais, impossibilitados de alimento sólido (I Co 3:1-3).

Ao escrever sua carta aos Gálatas, Paulo distingue com clareza o que é fruto da presença do Espírito e o que é resultado da presença da carnalidade na igreja (Gl 5:19-23).

Muitas igrejas estão confusas, atualmente, com a pregação de falsos avivamentos e de doutrinas inovadoras dos nossos dias. As divisões e cismas presentes nestes movimentos não são expostos como fruto do Espírito, mas como obra da carne, segundo a Palavra de Deus. A igreja de Corinto tinha conhecimento, mas não amor; tinha carisma, mas não caráter. Na verdade, era uma igreja infantil e carnal.

Em atos dos Apóstolos vemos a igreja Cristã iniciante, cheia da presença do Espírito evidenciando às pessoas o amor de Deus, a comunhão, a alegria, a singeleza de coração, mas acima de tudo a unidade de propósito e de serviço (At 2:42-47; 9:31) Quando as divisões impedem a existência desse ambiente, fica evidente a carnalidade na igreja.


3. Empecilho para o desenvolvimento da obra

Outra importante realidade que precisa ser enfatizada é que a divisão se torna empecilho para o desenvolvimento da obra. Queremos lembrar que divisão é uma realidade negativa, enquanto a diversidade de serviços e funções é tremendamente positiva na obra.

Aqueles crentes de Corinto estavam contendendo pelos líderes que mais agradavam. Quem seria o melhor? Quem fez a igreja crescer mais? Paulo, Apolo, Cefas? A carnalidade daqueles irmãos fazia aflorar o sentimento partidarista e impedia que eles vissem a obra como um todo, e Paulo, Apolo e Cefas como co-participantes desta obra.

Hernandes Dias Lopes, escreveu: “Eles estavam dividindo a igreja. e por quê? Porque estavam dando mais importância ao pregador do que à mensagem. Paulo precisa ensinar a essa igreja que o vaso, o mensageiro, é de barro (2Co 4.7). O importante não é o vaso de barro, o importante é o poder, é o conteúdo que está dentro do vaso. Esse conteúdo é o poder de Deus. Esse conteúdo é o evangelho. E é esse conteúdo que tem de ser ressaltado. Paulo chega a perguntar à igreja de Corinto: quem é Paulo? Quem é Apoio? Apenas servos por meio de quem vocês creram. Paulo quer que eles confiem em Deus e não no mensageiro. O propósito da pregação não é enaltecer o pregador, mas o Jesus que o pregador anuncia. Todas as vezes que a igreja comete o pecado do culto à personalidade, dando mais ênfase ao pregador que à pregação, conspira contra Jesus, esvazia o evangelho, e torna-se um obstáculo para o pecador vir a Cristo”.[7]

O apostolo Paulo afirma que há um só fundamento. Uma só obra. Contudo, há diversas maneiras de realizá-la, I Co 12.12-31.

Rev. Leandro Lima, escreveu: “Jesus batizou em um único Espírito todos os crentes num único corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. Nada poderia ser mais enfático. De fato não há classes distintas de crentes. Em um Espírito foi estabelecida uma só igreja, Gl 3.26-28; Ef 4.4-6. Graças a Deus porque a igreja dele não está dividida. Não há divisões ou classes distintas de crentes dentro da igreja, pois todos os crentes já foram batizados no mesmo Espírito” [8]


4. Eliminação do sentimento de comunhão

Até agora, pudemos perceber o prejuízo da divisão da igreja, no que concerne ao testemunho da cruz de Cristo, na espiritualidade e no desenvolvimento da obra. Contudo, o maior prejuízo, está ligado aos relacionamentos entre os irmãos em Cristo. O sentimento partidarista promove rupturas relacionais motivadas por inimizades. Como é possível estarem duas pessoas ligadas ao mesmo Deus e inimigas?

O profeta Amós escreve: “Andarão dois juntos se não houver entre eles acordo?” (Am 3:3). Como é possível duas pessoas afirmarem viver no amor de Deus e se odiarem? O apóstolo João orienta: “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (I Jo 4:20).

Como é possível duas pessoas louvar a Deus, cantar ao seu Santo nome, se estão em desacordo? O Senhor Jesus afirmou: “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta” (Mt 5:23-24).

A igreja precisa resgatar a sua identidade de comunidade unida, de um grupo de pessoas que, irmanadas na cruz de Cristo, trabalham, se motivam mutuamente e se doam ao próximo.



[1] MACARTHUR, John. I Coríntios - Estudos bíblicos de John MacArthur. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.
[2] BITTENCOURT, B.P. A personalidade viva de Paulo. São Bernardo: Faculdade de Teologia, 1964.
[3] BRUCE, F. F. Comentário Bíblico NVI do Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 2008.p. 1872.
[4] LOPES, Hernandes Dias. I Coríntios: Como resolver conflitos na igreja. São Paulo: Hagnos, 2013. Pag. 23
[5] IBID, pag 23
[6] PRIOR, David. A Mensagem de 1 Coríntios: A vida na igreja local. São Paulo: ABU Editora, 2001. p. 24.
[7] LOPES, Hernandes Dias. I Coríntios: Como resolver conflitos na igreja. São Paulo: Hagnos, 2013. Pag. 42
[8] LIMA, Leandro Antonio de.  Razão da esperança. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006