INTRODUÇÃO
Sua Igreja vai bem? Esta pergunta simples e corriqueira é,
na verdade, de difícil resposta. Para alguns a igreja nunca vai bem. Para
outros ela nunca vai mal. Na verdade, igreja perfeita só mesmo a triunfante
pois todas as que ainda militam na vida presente, enfrentam problemas, crises e
contratempos que servem para o amadurecimento e despertamento de líderes e do
povo de Deus. Assim sendo, uma das questões mais desestabilizadores e
visivelmente presente nas igrejas hoje, e que certamente precisa de reflexão e
orientação para sua superação é a divisão.
MacArthur escreveu: “O problema existe na igreja desde os tempos do
Novo Testamento. Os crentes de Corinto deixaram a desejar de muitas maneiras e
a primeira coisa pela qual Paulo os chamou à ordem foi a discórdia ou contenda.
Contenda é uma realidade na igreja porque o egoísmo e o pecado são realidades
nos seres humanos. Por causa de desavenças, o Pai é desonrado, o Filho é
envergonhado, seu povo é desmoralizado e desacreditado e o mundo é afastado
(despedido) e confirmado na descrença”.[1]
Igrejas divididas, faccionadas, cheias
de grupinho, de partidos e sub-partidos, é de fácil percepção nos dias atuais.
Os motivos para as dissidências e intrigas são as mais variadas. Pode-se citar alguns
exemplos: formas de liturgia (tradicionais e renovados); opção política
(situação e oposição); confronto de gerações (idosos e jovens), lideranças
eclesiásticas (satisfeitos e insatisfeitos), ênfase ministerial
(espiritualizados e socializados). É bom dizer, logo de inicio, que não há nada
de errado com opiniões divergentes ou com diversidade na igreja. A diversidade
é positiva na vida da igreja, a divisão é negativa.
Jesus afirmou que “reino dividido não
subsistirá”, Mt 12.25.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Quando lemos a carta de Paulo aos
Coríntios, um dos primeiros problemas verificados são as divisões de partidos
presente naquela igreja, I Co 1.11-13.
O teólogo B. P. Bittencourt afirma que “Paulo começa sua carta tratando deste
problema criado pela longa ausência do pastor. E que se cristalizou em grupos
bem definidos”:[2]
a)
Grupo de Paulo:
Era o grupo dos gentios. Paulo pregava o fim da Lei e liberdade cristã.
Provavelmente este grupo degenerou sua pregação para outros fins.
b)
Grupo de Apolo:
Ele era um judeu cristão de Alexandria (centro intelectual e filosófico). Os de
Apolo estavam fazendo do cristianismo simplesmente filosofia de vida
intelectualizada para debates retóricos.
c)
Grupo de Cefas:
Era o nome judaico de Pedro. Eram judeus com um profundo apego legalista que é
também visto na carta aos Gálatas.
d)
Grupo de Cristo:
O grande defeito deste grupo não estava em dizer que pertenciam a Cristo, mas,
em agir como se Cristo pertencesse a eles.
Bruce
escreve que: “Personalidades, métodos de
pregação e, provavelmente, ênfases doutrinárias se tornam pontos de divisão. O
apóstolo deixa bem claro que isso não era vontade dele, nem de Cristo.
Comparações feitas pela congregação se consolidaram em “panelinhas”. (v.
13-17)”.[3]
Comentando 1 Co 1.10, Hernandes Dias Lopes escreveu: “Depois de apontar o problema, Paulo roga aos
irmãos que em nome de Jesus falem a mesma coisa. Que não haja entre eles
divisões. A palavra “divisão” é a palavra grega cisma, cujo significado é rasgar um tecido. O que Paulo está dizendo é que
havia na igreja algo como um tecido rasgado. E isso que eles estavam fazendo:
rasgando a igreja! O apóstolo ordena à igreja: “[...] antes, sejais
inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer” (1.10b).[4]
Paulo
cuida do assunto de forma transparente ( 1.11). Muitas vezes quando queremos tratar dos problemas da igreja, não
tratamos de maneira semelhante. Paulo ficou sabendo das contendas na igreja (1.10; 7. 1; 16.10,11, 12, 17). Ele informou a
igreja sobre o problema e deu o nome de quem lhe trouxe o problema.
Sobre este
posicionamento de Paulo, Hernandes Dias Lopes diz o seguinte: “Paulo é específico quanto à informante e
quanto à informação. Essa transparência neutraliza a maledicência dentro da
igreja. Quando as coisas são trabalhadas em um ambiente de abertura e de
transparência, o mal é tratado e resolvido sem deixar feridas, mágoas e ranços”. [5]
1. Expressão
de nulidade da cruz de Cristo
O Evangelho de Cristo é um Evangelho
que promove unidade e não dissensões. Infelizmente, muitas igrejas vivem atualmente
o drama que a igreja de Corinto vivenciava naqueles tempos: O drama da divisão. O Apóstolo Paulo ao tomar ciência das
dificuldades reinantes naquela comunidade faz a indagação: “Acaso Cristo está dividido?” I Co 1:13.
Paulo diz que as divisões na igreja são
absurdas, porque elas estão levando os crentes a pensar que Paulo está pregando
um Cristo, Apoio está pregando outro Cristo e Cefas está pregando ainda outro
Cristo. Há somente um Salvador. Há somente um Evangelho. A igreja de Corinto
começou a se dividir internamente. Por quê? Porque em vez de a igreja
influenciar o mundo, o mundo é que estava influenciando a igreja. Onde há presença reinante da divisão,
dos partidos, há também forte indícios de que a cruz de Cristo está anulada.
Vemos atualmente igrejas se dividindo por causa de pessoas que se acham no
direito de ser as protagonistas centrais do Evangelho. Vemos grupos criando
inimizades nas igrejas por questões tão pequenas para a essencialidade do
Evangelho.
Uma
outra realidade bastante interessante, é o que David Prior escreveu: “o triste é que os membros insatisfeitos muitas
vezes têm o pensamento ingênuo de que outra igreja na região seria uma opção um
pouco melhor. Dessa inquietação surge o hábito comum do “troca-troca” de
igrejas”.[6]
Onde está a cruz de Cristo? Essa cruz
que promove a unidade, que derruba a parede da inimizade, criando o vínculo da
paz, onde está? Paulo afirmou o poder da Cruz em nosso meio, Ef 2.14-16; Fp
3.17-18.
2. Evidência
de uma igreja carnal
Uma segunda realidade que o texto
salienta sobre o problema da divisão na igreja de Cristo, é a evidência de uma
igreja carnal. O apóstolo Paulo denuncia esta questão. A igreja de Corinto
tinha inúmeros dons em operosidade, tinha fama de espiritual, de carismática,
mas estes irmãos são identificados por Paulo como crianças espirituais, e
crentes carnais, impossibilitados de alimento sólido (I Co 3:1-3).
Ao escrever sua carta aos Gálatas,
Paulo distingue com clareza o que é fruto da presença do Espírito e o que é
resultado da presença da carnalidade na igreja (Gl 5:19-23).
Muitas igrejas estão confusas,
atualmente, com a pregação de falsos avivamentos e de doutrinas inovadoras dos
nossos dias. As divisões e cismas presentes nestes movimentos não são expostos
como fruto do Espírito, mas como obra da carne, segundo a Palavra de Deus. A igreja de Corinto tinha conhecimento, mas não
amor; tinha carisma, mas não caráter. Na verdade, era uma igreja infantil e
carnal.
Em atos dos Apóstolos vemos a igreja Cristã
iniciante, cheia da presença do Espírito evidenciando às pessoas o amor de Deus,
a comunhão, a alegria, a singeleza de coração, mas acima de tudo a unidade de propósito
e de serviço (At 2:42-47; 9:31) Quando as divisões impedem a existência desse
ambiente, fica evidente a carnalidade na igreja.
3. Empecilho
para o desenvolvimento da obra
Outra importante realidade que precisa
ser enfatizada é que a divisão se torna empecilho para o desenvolvimento da
obra. Queremos lembrar que divisão é uma realidade negativa, enquanto a diversidade
de serviços e funções é tremendamente positiva na obra.
Aqueles crentes de Corinto estavam
contendendo pelos líderes que mais agradavam. Quem seria o melhor? Quem fez a
igreja crescer mais? Paulo, Apolo, Cefas? A carnalidade daqueles irmãos fazia
aflorar o sentimento partidarista e impedia que eles vissem a obra como um
todo, e Paulo, Apolo e Cefas como co-participantes desta obra.
Hernandes Dias Lopes, escreveu: “Eles estavam dividindo a igreja. e por quê?
Porque estavam dando mais importância ao pregador do que à mensagem. Paulo
precisa ensinar a essa igreja que o vaso, o mensageiro, é de barro (2Co 4.7). O
importante não é o vaso de barro, o importante é o poder, é o conteúdo que está
dentro do vaso. Esse conteúdo é
o poder
de Deus. Esse conteúdo é o evangelho. E é esse conteúdo que tem de ser
ressaltado. Paulo chega a perguntar à igreja de Corinto: quem é Paulo? Quem é
Apoio? Apenas servos por meio de quem vocês creram. Paulo quer que eles confiem
em Deus e não no mensageiro. O propósito da pregação não é enaltecer o
pregador, mas o Jesus que o pregador anuncia. Todas as vezes que a igreja
comete o pecado do culto à personalidade, dando mais ênfase ao pregador que à
pregação, conspira contra Jesus, esvazia o evangelho, e torna-se um obstáculo
para o pecador vir a Cristo”.[7]
O apostolo Paulo afirma que há um só
fundamento. Uma só obra. Contudo, há diversas maneiras de realizá-la, I Co 12.12-31.
Rev.
Leandro Lima, escreveu: “Jesus batizou em
um único Espírito todos os crentes num único corpo, quer judeus, quer gregos,
quer escravos, quer livres. Nada poderia ser mais enfático. De fato não há
classes distintas de crentes. Em um Espírito foi estabelecida uma só igreja, Gl
3.26-28; Ef 4.4-6. Graças a Deus porque a igreja dele não está dividida. Não há
divisões ou classes distintas de crentes dentro da igreja, pois todos os
crentes já foram batizados no mesmo Espírito” [8]
4. Eliminação
do sentimento de comunhão
Até agora, pudemos perceber o prejuízo
da divisão da igreja, no que concerne ao testemunho da cruz de Cristo, na espiritualidade
e no desenvolvimento da obra. Contudo, o maior prejuízo, está ligado
aos relacionamentos entre os irmãos em Cristo. O sentimento partidarista
promove rupturas relacionais motivadas por inimizades. Como é possível estarem
duas pessoas ligadas ao mesmo Deus e inimigas?
O profeta Amós escreve: “Andarão dois juntos se não houver entre
eles acordo?” (Am 3:3). Como é possível duas pessoas afirmarem
viver no amor de Deus e se odiarem? O apóstolo João orienta: “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu
irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão a quem vê, não pode
amar a Deus, a quem não vê” (I Jo 4:20).
Como é possível duas pessoas louvar a
Deus, cantar ao seu Santo nome, se estão em desacordo? O Senhor Jesus afirmou: “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua
oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa
perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; e,
então, voltando, faze a tua oferta” (Mt 5:23-24).
A igreja precisa resgatar a sua
identidade de comunidade unida, de um grupo de pessoas que, irmanadas na cruz
de Cristo, trabalham, se motivam mutuamente e se doam ao próximo.
[1] MACARTHUR, John. I Coríntios - Estudos bíblicos de John MacArthur. São Paulo:
Cultura Cristã, 2011.
[3] BRUCE, F. F. Comentário Bíblico NVI do
Antigo e Novo Testamento. São
Paulo: Editora Vida, 2008.p. 1872.
[4] LOPES, Hernandes Dias. I Coríntios:
Como resolver conflitos na igreja. São Paulo: Hagnos, 2013. Pag. 23
[6] PRIOR, David. A Mensagem de 1
Coríntios: A vida na igreja local. São Paulo:
ABU Editora, 2001. p. 24.
[7] LOPES, Hernandes
Dias. I Coríntios: Como resolver conflitos na igreja. São Paulo: Hagnos, 2013.
Pag. 42
[8] LIMA, Leandro Antonio de. Razão da esperança. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2006
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