INTRODUÇÃO
Algumas inovações litúrgicas
observadas no meio evangélico tem contribuído para que a missão docente da igreja
fique bastante prejudicada. Além disso, são muitos os profetas e mestres falsos
que injetam o seu veneno através de doutrinas estranhas e extravagantes, confundindo
e seduzindo muitas pessoas.
Por falta de segurança doutrinária e
conhecimento bíblico sólido, muitos estão saindo de suas igrejas e abraçando
falsos ensinamentos. Diante de tudo isso é preciso revitalizar o ensino na igreja.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Em toda a bíblia percebe-se a
preocupação com a tarefa do ensino. No Antigo Testamento os pais tinham o
cuidado e o dever de ensinar a Lei aos filhos. Era o ensino doméstico (Dt
6:6-9). A Lei era ensinada também publicamente (Ed 7:10). No Novo Testamento
Jesus ordena aos discípulos através do ensino cristão (Mt 28:19). A igreja do
Novo Testamento também se dedicava ao ensino (At 15:32).
Na igreja de Corinto, observamos o
contraste entre os pregadores:
a) alguns sábios e intelectuais
estavam valorizando demasiadamente os métodos filosóficos e retóricos e
desprezando a orientação e iluminação do Espírito Santo no ensino cristão. Eram
pessoas acostumadas aos debates e discursos baseados unicamente na intelectualidade
e saber humano.
b)
Paulo esteve entre os coríntios em fraqueza, temor
e tremor (v.3). É claro que fraqueza aqui conota total dependência de Deus.[1]
O que Paulo está dizendo é que o evangelho é
algo tão sublime e maravilhoso que quando ele foi a Corinto, foi na total
dependência de Deus. Ele não foi com ufanismo ou com autoconfiança; ele não foi
com soberba ou vangloria, mas foi com muita humildade, por entender a grandeza
e a majestade da mensagem que ele estava pregando.[2]
Charles Erdman, escreveu: “O evangelho era uma mensagem divina; se
assim fosse compreendido não haveria de dar chance à operação de tal espírito
de partido na igreja. Cuidara o apóstolo de pregar de tal modo que o caráter e
a origem divina de sua mensagem não fossem escurecidas pela demonstração de
sabedoria humana. Diante deles, pois, não havia brilhado como orador que
arrebatasse pela eloqüência, nem quis passar como filósofo, no testemunho da
graça salvadora de Deus em cristo Jesus.”[3]
Nos textos que estão fundamentados o
presente estudo, o apóstolo Paulo destaca que o ensino cristão vai muito além
da mera capacidade intelectual de uma pessoa. Ele é caracterizado por alguns
importantes aspectos que não podem ser negligenciados.
1. ENSINO
CENTRALIZADO NA PESSOA DE CRISTO
Percebe-se nitidamente no texto que
está sendo enfocado, que Paulo preocupa-se em apresentar um ensino que vá
diretamente à pessoa de Cristo Jesus e sua crucificação (2:2; 3:11; 4:1).
Para o apóstolo, Cristo é o centro e
não a circunferência. Através das epístolas de Paulo nota-se que ele pregava sobre
temas variados, mas tudo subordinava-se a Cristo Jesus. É por esta razão que escrevendo
aos efésios ele declara para todas as coisas, tanto as do céu como as da terra,
convergem para Jesus (Ef 1:10).
Erdman escreveu: “Sua “palavra” e sua “pregação”, pois, não consistiu em “linguagem
persuasiva” de humana “sabedoria”. Não obstante, foram acompanhadas pela demonstração
do Espírito e pelo seu poder. Tudo isto de acordo com o propósito divino, para
que os ouvintes não depositassem sua fé em qualquer aparato de sabedoria
humana, mas no poder manifesto de Deus”.[4]
A igreja, que exerce uma função
educadora na vida de seus membros, precisa contextualizar o seu ensino,
abordando temas da atualidade e do interesse de todos, mas tendo Jesus como a
base ou fundamento de tudo aquilo que é ensinado.
A habilidade retórica e os métodos
filosóficos de ensino, por si só não são convincentes. Muitas vezes a mensagem
se torna vazia, apesar de sua beleza artística, pois não está centralizada em Cristo.
Em Gálatas 6:11-17, Paulo apresenta o
cerne de sua mensagem, fazendo da Cruz de Cristo o centro do ensino cristão,
que é a razão do progresso do cristianismo. Quando o apóstolo afirma “para mim o viver é Cristo” (Fp 1:21),
ele está revelando que tudo se resume na pessoa de Jesus.
2. ENSINO
ORIENTADO PELO ESPÍRITO SANTO
As pessoas podem ter grande
conhecimento teológico concepção sobre a pessoa de Cristo, no entanto, se não
houver o ensino do Espírito Santo, confirmando e instruindo, o ensino se torna
um mero discurso humano, fruto do intelecto, simplesmente. O Espírito Santo é o
grande agente divino da sabedoria na vida da igreja (v.13).
Antonio
Gilberto escreveu: “A despeito de sua vasta
e polivalente cultura secular, e de sua grande erudição bíblica, Paulo era
cheio do Espírito Santo (l Co 2.4,5; At 9.17). O apóstolo dos gentios ensinava
e pregava com graça, unção e muita simplicidade, todavia, sem ser superficial”.[5]
Sobre o ensino orientado pelo Espírito
Santo, pode-se destacar que:
2.1
– Quebranta o coração
(2.9) – Quando a mensagem é
simplesmente resultado de uma capacidade intelectual ou de sabedoria humana,
não há quebrantamento de coração. São palavras que se reduzem a nada, afirma
Paulo (2:6).
Aquele que ensina na igreja pode ser alguém
dotado de extrema sabedoria e revelar uma mente intelectualizada e até mesmo
impressionar os seus ouvintes, mas, se o Espírito Santo de Deus não orientar o
seu ensino, tudo não passará de um entretenimento para a mente dos ouvintes.
Somente o Espírito Santo de Deus pode penetrar o coração do ser humano e
produzir quebrantamento e salvação.
São muitos os exemplos de pessoas que
tiveram poucas condições de estudar e não revelam sabedoria intelectual, mas
que ao pregar a palavra de Deus revelam profunda sabedoria espiritual e trazem
conforto ao coração e orientação para a vida.
É bom lembrar que isso não significa
que os estudos, a técnica, a cultura e o conhecimento, etc., sejam
dispensáveis. Paulo era um homem de grande cultura e capacidade intelectual,
mas tudo isso era submetido à orientação do Espírito Santo.
2.2
Contrapõe-se à sabedoria humana – Na cidade de Corinto e até mesmo na
igreja que ali existia, muitos filósofos e sábios apresentavam as suas teses e
idéias. Eram homens que ensinavam que o mais importante é o conhecimento, a
sabedoria humana. Chegavam a pregar que a salvação se adquiria por meio do
saber (Gnose– gnosticismo).
Paulo corrige isso dizendo que esta
sabedoria é loucura e insensatez diante de Deus (v.19). Para o mundo, a
mensagem do Evangelho é que é loucura, mas o Espírito Santo revela que ela se
constitui numa poderosíssima mensagem de salvação para o ser humano, algo que a
sabedoria humana jamais pode fazer. Nas palavras de Paulo, o Evangelho é o “poder de Deus para a salvação de todo
aquele que crê” (Rm 1:16).
3. ENSINO
CUJOS RESULTADOS SÃO CONSISTENTES
Paulo mostra que o ensino cristão apresenta
resultados consistentes quando é fundamentado em Cristo e orientado pelo Espírito
Santo. Em I Coríntios 3:10-17, o apóstolo declara que um ensino baseado em
coisas perecíveis, à semelhança de “ouro,
prata, pedras preciosas, madeiras, feno e palha” não há de permanecer no
momento da provação (Vs. 12-13).
Pelo texto, observa-se que um ensino
consistente tem as seguintes características:
3.1
Requer prudência
(3.10) – A idéia aqui é de um hábil
construtor que antes de erguer um prédio lança os alicerces com toda segurança
possível. Jamais ele constrói sobre um alicerce errado. Muitos são imprudentes
na forma e no conteúdo da mensagem que pregam. Não são cuidadosos ou zelosos na
apresentação da verdade de Deus. Vale à pena relembrar a palavra de Salomão que
diz: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria
e o conhecimento do Santo é prudência” (Pv 4:10). A verdadeira sabedoria
está associada à prudência (Ef 1:7-8).
3.2
Será provado
– Para saber se o ensino é ou não consistente ele será testado, provado; enfrentará
provas de fogo (3:13). Embora o texto se refira à provação no dia final,
pode-se entender que a obra da igreja é provada a cada dia. Uma igreja bem
doutrinada e que ensina com prudência terá a benção de após ser provada, revelar
perseverança.
Vivemos numa época em que os ventos de
doutrinas têm soprado pelas igrejas e levado muitos crentes para outras
direções. Muitos são os que ficam trocando de igreja ou até abandonam a fé.
Isso não significa dizer que o ensino fundamentado em Cristo impedirá totalmente
que alguém saia da igreja. As chances é que são menores.
3.3
Exige fidelidade (4.2) – Para que os resultados sejam consistentes, exige-se
de todos aqueles que ensinam, toda fidelidade ao Senhor. Essa fidelidade precisa
ser observada em todas as áreas da vida. Sendo um servo, o despenseiro deve ser
fiel ao seu Senhor.
João Calvino afirma que: “Só é fiel aquele que deseja de todo o
coração servir ao Senhor e fazer progredir o reino de Cristo”.[6]
Alguns dos que ensinam na igreja nem
sempre são fiéis ao Senhor e acabam tendo um discurso distanciado da prática.
Aquele que ensina pode ter muita habilidade e sabedoria, mas se não for fiel a
Deus em todos os aspectos da vida, o seu ensino cairá no descrédito.
A fidelidade à Palavra de Deus, que é
fidelidade doutrinária, indispensável para que o ensino na igreja apresente
resultados consistentes. Os cristãos de Jerusalém nos dão o exemplo dessa
fidelidade, pois “Perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2:42).
3.4. Produz
resultados positivos[7]
(Rm 10.17) -
A "fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de
Deus". Logo, a Palavra de Deus é a fonte que origina a fé salvadora Jo
5.24; 20.31; At 4.4. Porém, para que a fé seja gerada no ouvinte da Palavra é
necessário que a exposição do texto sagrado seja centrada unicamente na bendita
pessoa de Jesus, o Salvador, "autor e consumador da fé" Hb 12.2. Não
pode haver genuína conversão sem a fé em Cristo e por Cristo (At 20.21; Rm
5.1,2; Ef 2.8).
[1] GILBERTO, Antonio. I Coríntios: Os
problemas da igreja e suas soluções.
Lições Bíblicas 2T2009. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p. 8
[2] LOPES, Hernandes Dias Lopes, I
Coríntios: Como resolver conflitos na Igreja. São Paulo: Hagnos, 2008, p. 40
[3] ERDMAN, Charles R. Primeira Epístola
de Paulo aos Coríntios. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1957.
[4] IBID.
[5] GILBERTO, Antonio. I Coríntios: Os problemas da igreja e suas
soluções. Lições Bíblicas 2T2009. Rio de
Janeiro: CPAD, 2009. P. 9
[6] CALVINO, João. I Coríntios - Comentário
à Sagrada Escritura. São Bernardo do Campo, SP: Edições
Paracletos, 1996.
[7] GILBERTO, Antonio. I Coríntios: Os
problemas da igreja e suas soluções.
Lições Bíblicas 2T2009. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p. 10
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